A construção civil é a indústria que mais gera resíduos no planeta, consome 50% dos recursos naturais do mundo e é responsável por mais de 30% da emissão de CO². Não é de hoje que pode-se chamá-la de negócio junkie. Há 15 anos, essa consciência levou a arquiteta Rosana Corrêa a superar o ceticismo do mercado e a fundar a Casa do Futuro com o sócio, Marcelo Pacheco. Dez anos depois, em 2015, eles conquistaram a certificação de empresa B.
“Sustentabilidade em Construção Civil em 2005? Ninguém queria falar desse troço. A gente tentava vender projetos e trabalhos de consultoria em sustentabilidade, mas era só porta na cara”, conta Rosana Corrêa.
Antes de fundar a Casa do Futuro, Rosana e Marcelo tinham o Ateliê Arquitetura. Desenvolviam projetos, construíam e reformavam casas e prédios de forma tradicional. Mas os impactos que a atividade gerava no meio ambiente passaram a incomodá-los. Resolveram fazer diferente com a Casa do Futuro quando o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) abriu um processo de seleção para incubar empresas inovadoras. Inscreveram-se sem muita esperança, mas foram selecionados junto com outros 3 projetos.
“Nos prometeram uma salinha no INT, assistência jurídica e contábil. Pegamos nossas trouxinhas e fomos. Quando chegamos, nos deparamos com a realidade. A salinha não comportaria uma empresa e as assessorias também não rolaram”, lembra a arquiteta. Do fundo de quintal do INT à sede na Barra da Tijuca, foram muitos projetos vitoriosos, mas também frustrações no caminho de fazer construção de forma sustentável. A inspiração veio de fora do país. Em 2007 Rosana participou pela primeira vez da Greenbuild, o Congresso mais importante da área, em Chicago(EUA). Estava no fim da gravidez do seu único filho, mas conseguiu um atestado médico falso diminuindo o tempo de gestação para conseguir viajar. “Parecia uma entrada de jogo do Maracanã. Mais de 20 mil pessoas. Aquilo me impressionou muito, a quantidade de gente já interessada no assunto, quando no Brasil ninguém ainda falava disso.”
Um dos mais conhecidos projetos da Casa do Futuro é o Museu do Amanhã, na região portuária do Rio de Janeiro. Escolhido para desenhar o Museu, o arquiteto espanhol Santiago Calatrava exigiu uma equipe de sustentabilidade, e as portas se abriram para a Casa do Futuro. “A partir do momento em que as equipes foram entrando no projeto, o ar condicionado, a iluminação, a arquitetura local, paisagismo, sistemas elétricos, a gente já brifava que a história seria diferente, que íamos inovar, buscar altas performances relacionadas a questões sócio-ambientais. O camarada que dizia que não dava para fazer, na reunião seguinte já não estava mais na equipe.”
O Museu do Amanhã gasta 50% a menos de energia do que uma edificação convencional e é quase autossuficiente em água (80%). Toda chuva que cai no telhado é aproveitada, e toda água que sai da torneira é tratada. O paisagismo foi pensado para não precisar de irrigação. Não tem estacionamento. Todo mundo tem que ir de transporte público. Os únicos carros que chegam na porta do museu são os dos bombeiros e ambulâncias. Além disso, quase 90% do aço usado é reciclado.
Mas uma das maiores inovações do museu é o projeto de ar condicionado. O frio vem da troca de calor com o fundo da baía da Guanabara. “Olhamos em volta e pensamos: ‘estamos cercados de água, vamos tirar o frio dessa água para refrigerar o ambiente´. Nos disseram que a água da baía era quente. Fomos medir e, de fato, era; então decidimos medir a 25 metros e encontramos água fria”, conta Rosana.
O mercado de construção sustentável vem avançando a passos lentos no Brasil. Grandes empresas com histórico de danos ao meio ambiente, como a Vale e a Petrobras, passaram a reformar e construir prédios com a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para tentar compensar o impacto que elas geram. Rosana não tem dúvidas de que essa é a tendência do futuro, mas, em tempos de crise, o mercado costuma retroagir. “Continuam achando que sustentabilidade não é prioridade. Mas, quando falo de sustentabilidade, não estou falando que sou xiita na questão ambiental. Estou falando de dinheiro também, de reduzir em mais de 30% a conta de água, de energia, além dos ganhos extremamente significativos com aumento de produtividade, saúde e bem-estar. As pessoas têm que entender que os ganhos virão a médio e longo prazo”.
Sobre empresas B
A certificação internacional nasceu nos Estados Unidos em 2006 e é dada a empresas que ambicionam ser não apenas as melhores do mundo, mas as melhores para o mundo. Com este objetivo, redefinem o conceito de sucesso nos negócios. Seus acionistas estabelecem metas de impacto socioambiental junto com as metas de lucratividade.
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